quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Técnica permite identificar origem de drogas e tipos de armas

Assinatura digital química ajuda polícia técnica a rastrear origem da maconha apreendida e apontar armas utilizadas em crimes


Foto: Eduardo Zocchi


No disparo de uma arma, os metais presentes no gás formado apresentam diferentes padrões de dispersão


O grupo de pesquisas em química forense do Centro de Química e Meio Ambiente do Ipen e o Centro de Análises e Pesquisas do Instituto de Criminalística (CEAP) do Estado de São Paulo receberam reconhecimento no país e do exterior pelas novas metodologias desenvolvidas que permitem o rastreamento da cannabis sativa (maconha) encontrada nas principais cidades do país. Até o desenvolvimento da pesquisa todas as informações sobre a origem da droga dependiam de apreensões em locais de plantio e da declaração dos portadores, o que dificultava as investigações policiais.

Com o método introduzido no país em 2000, a história começou a mudar. A técnica consiste em analisar amostras de maconha apreendidas em grandes centros urbanos, utilizando sofisticados equipamentos que fazem uma caracterização química e isotópica precisa. O estudo identifica elementos químicos que se relacionam com a climatologia, condições de plantio e características geoquímicas do local.

Os pesquisadores Jorge Eduardo Sarkis, líder científico do projeto no Ipen, e o diretor do CEAP e coordenador técnico das pesquisas Osvaldo Negrini Neto apontam como fatores de sucesso a cooperação da Polícia Científica de nove Estados (AC, AP, BA, CE, MA, PA, PE, MS, PR) e o uso de técnicas de última geração. Apenas o Brasil e a Austrália desenvolvem trabalhos como esse. Programa similar deve ser implementado nos Estados Unidos.
Os Estados forneceram amostras apreendidas pela Polícia Civil. As coletas foram feitas de acordo com os padrões estabelecidos pela pesquisa, que faz parte de um convênio do Ipen com o Instituto de Criminalística de São Paulo. O estudo está incluído no âmbito dos projetos de Políticas Públicas apoiados pela Fapesp.

As pesquisas relacionadas ao disparo de armas estão permitindo a resolução de diversos casos reais. Consistem em identificar os metais, que se acumulam ou espalham de maneira diferente para cada tipo de armamento e munição. Na primeira fase do estudo, 200 voluntários civis fizeram disparos com diferentes tipos de armas. Em seguida, foi possível estabelecer um padrão de distribuição (assinatura química) para cada tipo de arma.

O princípio do método está baseado no fato de que cada arma é disparada com determinada energia e temperatura. Os metais presentes no gás que é formado apresentam diferentes padrões de dispersão, segundo sua massa.

De acordo com a suspeita, se homicídio ou suicídio, a técnica possibilita avaliar as regiões de interesse (dorso e palma das mãos do atirador, local atingido pela bala, mucosas, regiões próximas à perfuração, entre outros), identificar os metais e indícios do tipo de arma utilizado, confirmando ou desmentindo elementos dos autos da investigação. Foi o caso de um possível suicídio na Paraíba, que, após a exumação, os exames mostraram que se tratava de homicídio. Diante das provas, o suspeito confessou o crime.
A metodologia permite identificar o tipo de armamento em função do alvo e da distância do disparo. As roupas da vítima e do atirador podem também ajudar a levantar indícios do tipo de arma utilizada. Até mesmo uma munição tida como indetectável, a 9mm Clean Range, pode ser identificada.

Em colaboração com o Instituto de Biociências da USP, os cientistas começam a realizar o seqüenciamento genético da maconha, analisando seu DNA. Com a técnica, será possível descobrir possíveis alterações para melhorias na planta, as chamadas super-drogas.
Negrini explica que para o caso da cocaína o objetivo é rastrear a rota do tráfico, os pontos de distribuição e sua influência na cidade. Os pesquisadores investigam também o grau de pureza da droga, que é misturada pelos traficantes a diversos outros produtos, altamente danosos à saúde, para permitir maiores lucros. Em algumas amostras analisadas, encontrou-se menos de 15% de cocaína.

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